CAPICUA e PALÍNDROMO são palavras sinônimas. Mas palíndromo é mais aplicada a vocábulos e capicua a números. Têm o mesmo significado ou valor quando o que designam é lido da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.
A data de hoje, 02022020, é um palíndromo, dos compostos gregos “palín”, de novo, e “drómos”, correr, de resto presentes em outras palavras como hipódromo, camelódromo, aeródromo. E palimpsesto: superfície (em geral, couro) já utilizada para nela se escrever algo, mas que é raspado para receber outro texto.
O sinônimo de palíndromo é capicua, do Catalão “capicua”, palavra formada de “cap”, cabeça, “i”, e, “cua”, cu, que não é palavrão em Portugal nem na Espanha. Tampouco o Italiano “culo” é palavrão.
Capicua ou palíndromo perfeito dos anos, só temos um a cada século. Já tivemos em 2002. Agora só em 2112.
O mais belo palíndromo que eu conheço está em latim antigo e é também muito bonita e trágica a história de amor ocorrida na cidade de Pompeia em que este palíndromo pode significar a liberdade de um escravo, que entretanto o desperdiça quando se gaba de sua invenção a uma prostituta.
O escritor Osman Lins fez com que um palíndromo sustentasse as tramas de seu romance AVALOVARA. O dono garante a liberdade a seu escravo se ele inventar uma frase que seja palíndromo. E ele inventa esta: “sator arepo tenet opera rotas” (o lavrador mantém o arado no sulco).
Depois que ele inventa, diz ao dono que agora é ele, escravo, quem decide a hora da sua liberdade e vai a um bordel festejar a sua descoberta. Mas revela o segredo a uma prostituta e depois toma um porre. Ao acordar e seguir para a casa de seu dono para obter a liberdade vê o seu palíndromo pintado nos muros da cidade. O escravo, então, se suicida.
Que bela historinha por trás do meu palíndromo predileto! Esse dá para ler de cima para baixo e de baixo para cima tb qdo dispostas suas cinco palavras uma embaixo da outra!
Mas quanto eu recorde, nosso profe de latim tinha uma tradução algo diferente, em que o Arepo seria um sapateiro ( como em “ne sator ultra crepidam “ , ou, não suba o sapateiro além de suas chinelas) que tinha chinelas rotas! Mas, seja como for, o escravo, in casu, quis subir além das chinelas e deu com os burros n’água! Bela lição de vida, como (quase) sempre.
Buscar a liberdade, um bem inerente à vida, quando está é tirada arbitrariamente, jamais foi nem nunca será “subir além das chinelas”…
Corrigindo: “esta”, e não “está”. Culpa do maldito corretor.