por Deonísio da Silva *
Ladrão veio do Grego “látron”, pelo Latim “latro”. Em grego, “látron”, do mesmo étimo do verbo “latréo”, servir, designava o pagamento feito aos mercenários (soldados contratados) e aos empregados domésticos, isto é, que trabalhavam na “domus”, casa, residência, palavra que nos deu também domicílio. Escrevemos ladrão, com til, porque a fonte portuguesa foi “latro” declinado em “latrone”.
Cada qual recebia o seu “latro”, às vezes pago em sal, gerando a palavra “salarium” (quantia paga em sal, indispensável à conservação dos alimentos), salário, passados um mês, uma semana, quinze dias ou outro período fixado.
À medida que o império romano foi entrando em decadência, sobrevieram fatos desagradáveis, entre os quais o atraso de pagamento a soldados, mercenários e servidores, que, descontentes, formavam bandos perigosos de salteadores à mão armada, roubando, pilhando e saqueando, sem misericórdia.
Essa decadência dos costumes mudou o significado da palavra “latron”, que deixou de designar os antes incorruptíveis soldados imperiais.
A corrupção gerou também a palavra larápio. Como registrado em meus livros “De onde vêm as palavras” e “A Vida Íntima das Frases”, havia na antiga Roma um pretor, cujo nome era Lucius Antonius Rufus Appius.
Pretor era uma espécie de juiz entre os romanos. Esse fabricava e vendia sentenças a quem melhor pagasse por suas decisões.
Como se percebe, o costume é antigo. Lucius Antonius Rufus Appius abreviava o nome para L.A.R. Appius. Essa rubrica originou o neologismo larápio, e veio a designar o juiz ladrão, aplicando-se também a gatunos de outros ofícios e profissões.
* professor federal aposentado, é escritor e colunista da Rádio BandNews FM.